A vontade de observar melhor as estrelas, astros, eclipses e outros fenômenos que acontecem no céu tem feito cada vez mais pessoas viajarem para locais que ofereçam condições melhores que as grandes cidades para o astroturismo, modalidade de viagem que vem ganhando adeptos pelo país. Desde 2021, o Parque Estadual do Desengano, a 260 quilômetros ao norte do Rio de Janeiro, foi reconhecido pela International Dark-Sky Association (IDA) como o primeiro “parque de céu escuro” da América Latina.
Os integrantes do Astroturismo nos Parques Brasileiros, que organiza atividades públicas de observação dos astros em parques, contam como funciona a prática, quais as condições necessárias para uma boa observação e o que atrai viajantes para a experiência. A iniciativa teve início como um projeto de pesquisa na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e ganhou apoio do Instituto Estadual do Ambiente (INEA), Secretaria de Ambiente e Sustentabilidade do estado (SEAS-RJ) e do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).
Para conseguir ver as estrelas de forma mais abrangente, é preciso estar longe das luzes artificiais das cidades. “A poluição luminosa, que é o excesso de iluminação artificial que o ser humano produz, acaba tendo um impacto muito negativo na observação astronômica. Quando as pessoas nas grandes cidades olham para o céu, conseguem contar meia dúzia de estrelas, pois a luz excessiva ofusca as mais fracas”, comenta o astrônomo e doutor em astrofísica Daniel Mello, coordenador do projeto, em uma live explicativa sobre o tema.
A observação – que pode ser feita a olho nu ou com telescópio – acaba sendo um pouco melhor em regiões mais afastadas dessas luzes, como parques e regiões menos povoadas. “O turista se desloca para locais com céus mais escuros para poder contemplar o céu. É um tipo de turismo de experiência”, explica à Casa Vogue o astrofotógrafo e CEO do NightSky.com, Igor Borgo.
“É muito incrível o que a gente consegue observar num céu muito escuro a olho nu. As (galáxias) Nuvens de Magalhães e Andrômeda, em locais muito escuros são facilmente visíveis a olho nu. E com uso de telescópio, é possível ver objetos ainda mais tênues. A astrofotografia permite, com a câmera, captar muito mais detalhes que os nossos olhos, sendo também uma ferramenta interessante”, vibra.
Ele cita as regiões do país onde as condições são consideradas melhores. “No Rio de Janeiro os dois locais mais escuros são Santa Maria Madalena e a parte alta do Parque Nacional de Itatiaia. A ‘meiuca’ do Brasil, que abrange norte de Goiás, sul de Tocantins, norte e noroeste de Minas Gerais e oeste da Bahia são locais muito bons, porque é a densidade populacional ali é muito baixa, quase não tem cidades grandes”.
Geralmente, os interessados passam a noite nestes lugares, observando o céu. O astrofotógrafo lembra que o cerrado e a caatinga, biomas das regiões citadas, também contam a favor: apesar do céu escuro, a Amazônia, por exemplo, acaba não oferecendo as mesmas condições para a prática de astroturismo pela quantidade constante de nuvens e chuvas, que compromete a visualização.
A prática do Astroturismo é mais avançada em países como Chile, Portugal, Estados Unidos e Austrália – mas vem ganhando adeptos por aqui, com roteiros começando a aparecer, assim como agências oferecendo a modalidade. “O Brasil tem muito potencial para desenvolver essas atividades e sua exploração econômica, principalmente para a formação de geração de mão-de-obra diferenciada nesse turismo de conhecimento, de experiência”, acredita Daniel Mello.
Destinos de Astroturismo ao Redor do Mundo
1. Observatório Paranal, Chile
Localizado no deserto do Atacama, um dos lugares mais secos e menos iluminados do planeta, o Observatório Paranal oferece condições ideais para a observação astronômica. Visitantes podem desfrutar de tours guiados e observar o céu através de telescópios de última geração.
2. Parque Nacional de Yellowstone, Estados Unidos
Além de sua beleza natural incomparável, o Parque Nacional de Yellowstone também é um destino privilegiado para astroturistas. Com vastas áreas selvagens e pouca poluição luminosa, o parque oferece uma visão deslumbrante do céu noturno.
3. Observatório do Roque de los Muchachos, Ilha de La Palma, Espanha
Situado a mais de 2.400 metros acima do nível do mar, o Observatório do Roque de los Muchachos é um dos melhores locais de observação astronômica do mundo. A ilha de La Palma possui céus incrivelmente escuros e claros, tornando-a um destino popular para astrônomos amadores e profissionais.